60 dias de alegria



Depois de um verão atípico, com poucas ondulações de qualidade e muita chuva, o outono veio bem diferente do que estamos acostumados. Fomos batizados com aproximadamente 60 dias ininterruptos de swell. Ondulações que variaram de meio a 2,5 metros com grande qualidade escorriam pelos point breaks da cidade e adjacências.

A onda de Burleigh Heads é perfeita, espetacular, tubular e quilométrica – perdoem-me pela euforia.

Como diria o poeta, nem tudo são flores. Burleigh também é uma onda urbana, consequentemente bastante crowdeada e com um localismo bem agressivo.

No verão, a onda estava com a formação bem desalinhada e foram poucos dias que o mar funcionou como poderia, tanto que os campeonatos do início do ano, como o Pro Junior e o Breaka Pro, foram realizados em condições bem abaixo das expectativas.

Os últimos 60 dias foram de glória para quem é apaixonado pelo esporte. A minha rotina consistia em acordar antes de o sol nascer e correr para o point de Burleigh e ususfruir daquelas condições épicas antes de ficar fechado dentro do escritório.

Minha mulher ate “ameaçou” ao dizer que iria divorciar se eu não diminuísse a frequência de fugas para a praia mais próxima. Era difícil ficar em casa quando tem ondas perfeitas e quilométricas quebrando a apenas 5 minutos de casa. Seria uma tortura não aproveitar.

Ironicamente, logo depois da estapa do WCT comecou a rolar muita onda. Esta sequência de ondulações de qualidade e direção ideais fez a Gold Coast expor todas as suas joias, em destaque para a qualidade mecânica de Burleigh.

Depois desses 60 dias mágicos, o swell baixou e encontrei com Ellyse Andrew, uma amiga e fotógrafa. Ela havia aproveitado os dias clássicos parar fotografar e registrar a pureza e beleza do lugar que escolhemos para chamar de casa.

Ela mora a aproximadamente 40 passos do mar, exatamente em frente ao point break, criando assim um rico acervo de imagems sobre Burleigh Heads. Ellyse é presença constante em qualquer swell de Burleigh.

Por isso resolvi bater um papo com ela para falar sobre este lugar incrível.

Burleigh é meu bairro, minha praia, minha casa. Infelizmente não moro tão perto da praia quanto você. Por que você escolheu morar aqui?
Tive sorte de encontrar o apartamento aqui na frente. Não estava nem sequer pensando em me mudar. Encontrei e não pude perder essa oportunidade, então me mudei alguns dias mais tarde! Foi muita sorte.

Sempre viveu aqui aqui na Goldie?
Sou de Sydney e mudei para a Gold Coast quando eu tinha 22 anos. Vivi em Surfers Paradise (bairro aqui da Goldie) durante três meses. Então, me mudei para Burleigh e nunca mais sai.

Quais as vantagens e desvantagens de morar aqui?
Obviamente, a beleza do lugar, a onda do point, o lugar é realmente mágico. Há uma vibe de morar aqui ao contrário de qualquer outro lugar.

Desvantagens?
Acho que no verão fica tão lotado, você gente pra todo lado, subindo e descendo, multidões acompanhando os casamentos que ocorrem aqui no point. Mas o inverno é sempre tão bom, tem sempre menos gente. Invernos sempre tem muito swell bombando na Goldie e você pode dirigir por uma ou duas horas para surfar altas ondas com pouca gente. No inverno Burleigh parece uma cidade pequena.

Quando e porque decidiu fotografar?
Eu amo o surf e até mesmo crescendo no meio do mato, em Sydney, eu costumava comprar revistas de surf, filmes e ficava babando em cima deles, eu amo fazer isso para as pessoas. Eu adoro ter uma foto de mim mesma, mas adoro mesmo dar um presente a alguém. As fotos me dão essa oportunidade. Todo mundo adora ter um momento seu surfando, eu gosto de dar isso para as pessoas.

Gosto de tentar capturar esses momentos, pessoas pegando tubos, este é meu momento favorito. E eu acho que a foto do tubo nunca vai sair de moda. Burleigh é um dos mais belos e únicos tubos do mundo.

Você tem outro trabalho?
Sou professora de natação para crianças pequenas e também para adultos. E sou dona do Buleigh Photos.

Qual o mar mais impressionante que já testemunhou nestes anos fotografando?
Estes últimos dois meses têm sido incríveis. O swell parecia que nunca iria acabar aqui em Burleigh, foi uma glória. Você não pode deixar de admirar a onda no point quando está funcionando. No último swell, fiquei vendo Kelly Slater, o melhor surfista do mundo, surfando um dos melhores picos do mundo nas suas melhores condições. Isso foi muito especial. Conseguir tirar várias fotos dele. Foi irado.

Ouvi dizer que você doou uma foto do Kelly surfando Burleigh para poder ajudar um surfista local. Como foi isso?
Um local chamado Peter Glen está na luta contra um câncer e vai tentar um tratamento no México que pode ser a última esperança de cura. Um dos amigos dele teve a ideia de fazer um fundo de caridade, para que ele possa ter o tratamento necessário. Originalmente a foto seria assinada por Kelly Slater, mas a gente não conseguiu entrar em contato com o Slater, pois ele sempre estava na correria atrás das ondas. Mesmo assim a foto acabou sendo vendida por $ 750 e o valor foi arrecadado com successo para a família de Peter Glen.

O que mais você admira quando Burleigh está quebrando em perfeitas condições, como na foto do Kelly?
Gosto quando o surfista encontra a linha da onda e flui junto com ela e não contra ela. Eu acho isso muito mais elegante do que encher a onda de batidas e rasgadas. Eu acho que eu gosto muito mais do estilo da velha escola de surf. Então penso que estilo é algo que envolve muito mais.
   
Quais são as suas referências e inspiração?
Eu diria que os meus amigos e os tubos (risos) são minha fonte de inspiração. Meus amigos porque eu adoro fazer foto deles. É sempre bom dar uma boa foto para eles. Eu sempre brinco com meus amigos quando vamos surfar: “Pegou? Fotografou essa onda?”. É um sentimento tão bom. Então, ter um amigo para compartilhar o momento e que presencie a onda é ainda melhor.

Eles perguntam sempre se eu fotografei (risos). Eu gosto de dar este momento às pessoas. Os tubos são incríveis, pela forma como ele quebram na bancada, é tão bonito. Eu tive experiência com arte, pintura e desenho e coisas assim. E sempre lembro o quanto eu desenhava e pintava no meu quarto. Agora, vivendo na praia, amo trabalhar com as cores que a praia oferece, o jeito que o sol se move e caminha sobre o oceano.

Qual é o cenário perfeito para a fotografia?
Final de tarde aqui em Buleigh, porque o sol se põe atrás de você e não diretamente na sua frente, na água, como no período da manhã. As manhãs podem ser difíceis para fotografar. Às vezes o sol só superexpõe as fotos ao máximo.

É difícil fotografar essa onda?
Nao é tão fácil quando o sol está na sua frente de manhã cedo. Mas, a onda em si é tão perfeita e acaba fazendo a maioria do trabalho para você!

Qual o teu equipamento de uso diário?
Só uso minha Canon EOS400D com uma 300mm. Estarei me atualizando em breve, eu realmente quero uma caixa-estanque para estar na água.

Qual é a sua relação com o Brasil e quais grandes diferenças culturais você experimentou quando esteve lá?
Meu parceiro, Murilo Zemaitis, é de Guarujá, São Paulo. Fiquei lá durante um verão inteiro com a família dele. O Tombo é um lugar tão incrível que eu me apaixonei por essa praia. Gostava de surfar pela manhã. Depois tinha um papo com os locais e comia algo. Depois, íamos para Santos à noite e jantávamos fora. Foi um bom tempo em minha vida. Também adorei São Lourenço.

Fiquei em Floripa por três semanas, mas eu prefiro Guarujá e o litoral de São Paulo. Falo um pouco de português. E tenho um monte de amigos do Brasil aqui na Gold Coast. Então eu posso dizer que tenho uma forte ligação com o Brasil. Há tantas grandes diferenças, mas ao mesmo tempo eu acho que somos parecidos e que os opostos se atraem.

Acho que os brasileiros são muito mais apaixonados pelas coisas que fazem, ou melhor, qualquer coisa, seja por sua família, pelo surf, pelo futebol, pelo país. Eles são um povo muito apaixonado, que é muito bom, enquanto os australianos são um pouco mais frios, mas acho que às vezes somos erroneamente tachados de preguiçosos. Nossos estilos de vidas são bem parecidos.

Adoro a comida brasileira, especialmente porque cresci onde a comida era sempre bife e purê de batata e eu era responsavel pelo meu almoço desde os 7 anos de idade. Eu ficava impressionada com minha sogra me dizendo que eu estava muita magra e ficava dizendo que eu não comia suficiente e constantemente tentando me alimentar!

Onde podemos apreciar seu trabalho e ver novas fotos?
Na minha página do Facebook e em breve no meu site. Adoro receber um feedback pelo Facebook, onde pude conhecer a comunidade e muita gente interessante. Quando as pessoas gostam do seu trabalho vem um sentimento muito bom.

Deixe uma mensagem para a galera do Waves.
Continue buscando o seu tubo e confira meu site para ver se não tem uma foto sua lá.  Boas ondas!

Matéria retirada do site Waves feita por Sergio Lustosa.
Para acessar a galeria de fotos clique aqui

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